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Por Fabio Mota – vice-presidente de Serviços aos Negócios e Tecnologia da Raízen

Desde 1987 milhares de pessoas se reúnem em Austin, nos Estados Unidos, para discutir os temas mais importantes relacionados à criatividade. O que começou como um festival para discutir as últimas tendências em entretenimento e cultura, passou a adotar a tecnologia como um de seus pilares, dado o impacto que esta passou a ter sobre as temáticas discutidas no evento. O foco em 2024 não poderia ser diferente: a inteligência artificial, mas não do jeito que pensávamos.

Era sabido que a IA seria a grande protagonista da agenda, porém, me chamou a atenção o foco que vem sendo dado a ela: uma poderosa auxiliar do ser humano, deixando para trás a ideia de que ela o substituiria por completo. Aqui no Texas, os diversos painéis e discussões que acompanhei mostram que a IA não substituirá os gestores, mas gestores que utilizam IA substituirão gestores que não a utilizam. Na prática, isso mostra que o seu impacto na sociedade será determinado pelo modo como os seres humanos irão utilizá-la, garantindo que ela seja aplicada de forma responsável e vista como uma aliada. 

Outro tema bastante enfatizado foi a governança sobre aquilo que está sendo desenvolvido, não no intuito de barrar ou desacelerar a inovação, mas sim garantir que ela está sendo desenvolvida com um propósito positivo, corporativo e social.

Muito se fala ainda de grandes potências que se destacam conforme a assertividade de suas soluções. Vimos, por exemplo, a NVIDIA – multinacional de tecnologia desenvolvedora da plataforma de IA, NeMo – virar protagonista em um campo onde Intel e AMD brilhavam, novas marcas de carros elétricos e autônomos em um local onde a Tesla reinava sozinha e até mesmo o ChatGPT da OpenAI, que puxou o boom da inteligência artificial generativa e já oferece espaço para uma série de novas alternativas.

Não sei se há um efeito psicológico ou antropológico que ajuda a explicar, mas estar no evento e assistir ou encontrar personalidades como Amy Webb, Chris Dixon, Sandy Carter, Peter Deng e Ian Beacraft, seja nas grandes palestras ou nos (vários) happy hours mais intimistas, potencializa a oportunidade de troca e reflexão. Algumas são mais enfáticas, como a discussão sobre se a singularidade tecnológica ocorrerá em 2045 e outras são mais cautelosas, como a afirmação de que “ainda não enxergamos todo o real impacto que a IA causará”. 

Assim como tivemos a curva de adoção da internet e dos celulares, com a IA não será diferente. E quão logo os chamados usuários entendam que esse não é um sistema que a área de tecnologia vai construir, mas sim ferramentas de uso diário, como o Microsoft Excel, que estão à disposição para qualquer um utilizar e encontrar sua melhor forma de extrair valor, mais rápido será esse incremento de uso e extração de valor. 

Dentro da agenda de sustentabilidade, um ponto que chama a atenção é que o uso de IA tem ajudado empresas a otimizarem seus processos e, consequentemente, consumirem menos recursos da natureza. Isso por si só não é algo novo em termos de objetivos, já que esse é o jeito que a indústria sempre evoluiu, mas chama a atenção a democratização, expansão, aceleração de pesquisa e desenvolvimento de novas soluções. A IA tem permitido, entre outras coisas, maior experimentação e processos menos custosos. A exemplo disso, aquilo que seu viu no processo de desenvolvimento da vacina para o COVID em tempo recorde, também tem se aplicado na busca por soluções mais sustentáveis nos cases de manufatura.

Os desenvolvedores de tecnologias continuam e continuarão muito otimistas, afinal, esse é o papel deles. Cabe aos executivos serem o ponto de equilíbrio entre o que é tendência e o risco necessário para se manter à frente perante os concorrentes e o pé no chão para não comprometer, antes do tempo, a bala de prata que sustenta todo o futuro. Veremos o que o horizonte nos reserva. 

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