Desde o início da quarentena no País, forma de prevenção contra a COVID-19, muitas mulheres estão vivendo uma rotina tensa e se tornaram mais vulneráveis à violência doméstica. Para alertar sobre esse grave problema que acontece em milhares de lares brasileiros, a F.biz e a Vetor Zero criaram o filme “Call” para o Instituto Maria da Penha, que estreia em portais de notícia e redes sociais, como YouTube e Facebook.
O isolamento social intensifica a convivência entre os familiares, o que pode aumentar as tensões. A Organização Mundial da Saúde (OMS) emitiu um alerta sobre o crescimento do consumo de álcool nesse período e sua relação com o aumento da violência doméstica durante o confinamento. Somado a isso, o contexto de apreensão, incertezas e adversidades impostas pela pandemia colabora para as discussões entre casais, as quais podem desencadear diversas formas de agressão (física, psicológica, sexual, patrimonial e moral). E a presença constante do agressor intensifica a situação de violência, pois o controle sobre a vítima é maior.
As dificuldades que já existiam para a denúncia – como medo do agressor, dependência financeira, preocupação com os filhos, vergonha, problemas de acesso à justiça e vitimização pelo Estado – elevaram-se exponencialmente. Assim, devido ao isolamento social, muitas mulheres não conseguem fazer as denúncias, o que gera um número alto de subnotificações.
Entre fevereiro e abril deste ano, houve um aumento de 431% de relatos no Twitter sobre brigas entre casais*. Nas mensagens filtradas pela rede social, foram registradas 5.583 menções que indicavam a ocorrência de violência doméstica. Outro dado significativo é o fato de que a busca no Google por “Lei Maria da Penha” teve um salto exorbitante de até 238%, o que reflete a alta demanda por informações sobre o tema**.
“Apesar de a violência doméstica ser um problema com o qual lidamos diariamente, o confinamento deu mais visibilidade a ela no Brasil e no mundo. Daí a importância de conscientizar e informar tanto as mulheres quanto toda a população sobre como identificar as situações de violência, quais os canais de denúncia e de que modo cada um de nós pode ser parte da rede de apoio às vítimas. Acredito que esta campanha é capaz de encorajar a sociedade a denunciar, além de reforçar a necessidade de ações contínuas sobre esse fenômeno e contribuir para fortalecer o enfrentamento à violência de gênero”, afirma Conceição de Maria, cofundadora e superintendente-geral do Instituto Maria da Penha.
Pensando nesse cenário, o filme “Call” mostra um grupo de pessoas em uma videoconferência de trabalho, em que uma delas chama atenção: uma mulher muito maquiada e tensa. Ao ser indagada sobre o motivo da sua produção visual, ela dá a desculpa de que estava cansada de fazer reuniões virtuais de pijama. Porém, uma de suas colegas percebe que há algo estranho e pergunta para ela, via chat privado, o que está acontecendo. Em resposta, a mulher pede ajuda e conta que foi agredida pelo companheiro, que aparece ao fundo no vídeo, consumindo álcool. A amiga telefona para a polícia e, quando o interfone da residência da vítima toca, esta diz que há uma encomenda para o seu companheiro retirar na portaria.
Quando o agressor sai, a amiga grita para a vítima trancar a porta e a acalma, dizendo que ela está protegida, enquanto os demais participantes do grupo não entendem a situação. Nesse momento, entra o lettering informando sobre o aumento da violência doméstica no período de reclusão social por conta do Coronavírus, além de reforçar a importância de todos ficarem atentos e ajudarem as vítimas de agressões.
“Desde o começo da quarentena, estamos produzindo conteúdos informativos e de apoio ao combate à violência doméstica. Infelizmente, durante esse período, houve um aumento de até 50% do número de denúncias em alguns Estados brasileiros, uma situação alarmante que precisa ser combatida com a ajuda de todos. Usando o cenário atual, dos Hangouts, produzimos uma história para chamar a atenção de todos aos pequenos sinais que podem revelar um pedido de ajuda”, declara Adriano Alarcon, CCO (Chief Creative Officer) da F.biz.
A empatia é uma ferramenta fundamental de combate à violência doméstica. Por isso, é preciso conversar com outras mulheres, enviar mensagens, procurar saber como elas estão vivendo o período de isolamento social, manter contato constante e ressaltar que elas têm a quem recorrer em caso de violência.
“Foi um privilégio poder contar uma história assim, com uma mensagem tão importante nesse momento difícil que estamos vivendo como sociedade. Nossa grande preocupação foi alinhar forma e conteúdo para que a história tivesse muita clareza para mostrar que as mulheres não estão sozinhas e que sempre existe alguém disposto a ajudar”, explicam Coutinho & Batti, a dupla de diretores do filme.
* FÓRUM BRASILEIRO DE SEGURANÇA PÚBLICA. Violência doméstica durante a pandemia de Covid-19. Nota técnica. 16 abr. 2020. Disponível em: <http://forumseguranca.org.br/wp-content/uploads/2018/05/violencia-domestica-covid-19-v3.pdf>. Acesso em: 04 maio 2020.
** FERRARI, Mariana. Em quarentena com o agressor. IstoÉ, 24 abr. 2020. Disponível em: <https://istoe.com.br/em-quarentena-com-o-agressor/>. Acesso em: 08 maio 2020.
Como ajudar
- Fale com suas amigas, colegas e vizinhas para saber como elas estão vivendo esse período de isolamento social.
- Não julgue: ouça e acredite. Dê credibilidade à fala da vítima.
- Acompanhe e respeite a jornada na decisão pela denúncia, que nem sempre é imediata.
- Deixe claro para a vítima que ela não está sozinha.
- Se possível, ajude a reunir provas, como fotos, vídeos, mensagens ou gravações.
- Tenha atenção redobrada a qualquer indício. Quem está dentro do relacionamento possui mais dificuldade de identificar a situação de violência.
- Se a mulher achar que sua vida corre perigo, mas, ainda assim, não quiser denunciar (por medo, dependência financeira etc.), informe para ela que é possível conseguir uma medida protetiva mesmo sem fazer o Boletim de Ocorrência (BO).
Telefones importantes
- Para denúncias: Ligue 180 – Central de Atendimento à Mulher
- Para emergências: Disque 190 – Polícia Militar