Espetáculo idealizado por Devassa transferiu a aglomeração das ruas para a tela da TV e da internet; “Paredão Tropical” ganha especial no próximo sábado, 5 de março, na Globo
Cantar, tocar e dançar sem se verem e separados por 100 enormes janelas, guiados pelo ritmo da percussão. É o que Gaby Amarantos, Xanddy, Carlinhos Brown, Lia de Itamaracá, Larissa Luz e os blocos Ilê Aiyê, Cortejo Afro e Didá fizeram no espetáculo apoteótico “Paredão Tropical”, realizado por Devassa neste domingo (27) de Carnaval em Salvador, para homenagear o legado preto da folia brasileira. O baile carnavalesco ganha especial na TV no próximo sábado, 5 de março, com exibição da Globo (serviço abaixo).
O “Paredão Tropical” ocupou seis andares do Edifício Sulacap, localizado nas imediações da já musicada Praça Castro Alves, no Centro Histórico da capital baiana, região conhecida por abrigar o carnaval democrático que atrai o povo preto da periferia. “O espetáculo inovou ao adaptar a aglomeração do carnaval de rua para o distanciamento propiciado pela apresentação vertical transmitida ao vivo para todo o país pelas telas do Multishow na TV e pelos perfis de Devassa no YouTube, Twitter e Facebook, já que o evento não foi aberto ao público e local não divulgado previamente” explica Ilana Lencastre, Gerente de Marketing de Devassa.
Os tambores comunicam, conduzem rituais e transmitem a identidade africana. O espetáculo se sobressaiu por recriar essa narrativa por meio de um repertório com os ritmos herdados pelos povos pretos do Norte-Nordeste brasileiro, descendentes da Diáspora. No palco, a cantora Gaby Amarantos revisitou os clássicos “Sinhá Pureza” e “Frevo Mulher” em arranjos com beats do curimbó, potente tambor típico do Pará extraído do tronco de árvore, que imita o som da onça na floresta. “A percussão é o elemento pulsante que reverbera muito a potência das aparelhagens”, explica a artista. Ele se emocionou ao refletir sobre o projeto: “Foi um reencontro com minha ancestralidade. Estou muito feliz, porque pra mim dançar, cantar e pular o carnaval é ser brasileira”.
A ancestralidade preta tem uma regra básica: o respeito aos mais velhos. Aos 78 anos de idade, Lia de Itamaracá foi a anfitriã do espetáculo. A pernambucana trouxe em cena a tradição da ciranda, assumindo os vocais da canção “Quem me deu foi Lia”. A cirandeira portadora do título Doutor Honoris Causa foi sucedida por Xanddy, que iniciou a carreira artística como percussionista. “Foi emocionante lembrar que há duas décadas a gente faz festa rodeado por uma multidão e, dessa vez, foi somente nossas vozes. Foi como um grito de libertação”, lembra o cantor ao atravessar mais um carnaval na carreira.
Projeções gráficas da tecnologia conhecida por mapping transformaram a estrutura externa do Edifício Sulacap em uma grande tela tridimensional, com estampas de alegorias que remetiam à ciranda, o carimbó, o samba reggae, o maracatu, o frevo e o axé music. O quinteto de músicos-solo e o trio de blocos afros dividiram a cena com bailarinos que deram representatividade aos personagens da folia do Norte-Nordeste, com destaque para Boi-bumbá, caboclos de lança, Deusa do Ébano e o Guerreiro do Cortejo Afro, que não puderam ocupar as ruas pelo segundo ano consecutivo.
“Paredão Tropical” é idealizado e produzido pela Atenas Comunicação, com direção artística e roteiro de Elisio Lopes Jr, direção musical de Jarbas Bittencourt, designer gráfico e mapping do VJ Gabiru, coreografia de José Carlos Arandiba, direção de imagem de Caio Coutinho, estratégia de conteúdo digital da HNK Lab e estratégia de mídia digital da iProspect (Red Star). O espetáculo foi realizado à medida que a vacinação contra a Covid-19 avança no Estado da Bahia e cumpriu os protocolos pandêmicos.