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Open Food Innovation Summit 2020 (1)

Objetivo é acelerar o futuro do negócio do alimento através de experiências positivas que possibilitem conexões entre participantes ao redor do mundo

Em dois dias e mais de 36 horas de conteúdo, a segunda edição do Open Food Innovation Summit – maior evento sobre o futuro do alimento – reuniu cerca de 1 mil pessoas, entre palestrantes e participantes, que representaram toda a cadeia do alimento. Segundo um dos idealizadores e fundadores do Open Food Innovation Summit, Matheus Von Mühlen, as empresas que estiveram no evento movimentaram mais de U$ 20 bilhões de dólares no mercado brasileiro no segmento no último ano. O dado mostra a importância e a necessidade de debater o assunto, transformar o cenário gerando oportunidade de negócios. “Neste ano, estabelecemos a nossa marca como um evento global que trata do futuro do alimento através de tecnologia e da inovação”, destaca. 

A força da alimentação hiperlocal, a diversidade do sistema delivery, a importância do food care, a comida impressa, o conceito de zero desperdício e a reestruturação sustentável de toda cadeia produtiva foram os principais temas deste ano. “Todas as palestras indicaram que haverá crescimento acima do PIB, neste mercado, pela mudança acelerada no consumo, com maior preocupação para a origem dos alimentos e a procura de produtos com valor agregado devido à pandemia de Covid-19”, reforça Von Mühlen.

A máxima positiva do evento foi a conexão entre os participantes, que utilizaram as ferramentas de networking online da plataforma. “Registramos cerca de dois mil contatos feitos ali, reunindo presidentes de empresas, empreendedores, gerentes, CEOs, professores universitários e público de interesse”, revela. A organização do Open Food Innovation Summit estima que as startups que apresentaram seus cases receberam acelerações de aproximadamente R$ 200 milhões nos últimos doze meses. “Essas empresas estão crescendo e se desenvolvendo em uma velocidade muito rápida”, salienta. 

Os conteúdos mais procurados nos dois dias reforçam as mudanças já em fluxo desde o ano passado, na primeira edição do OFIS. “Temas que envolvem tecnologia transformando a cadeia e consumo hiperlocal dominaram novamente. Entendemos que essa é a grande oportunidade e a questão mais atual no setor: a origem do alimento, com informações claras de como essa comida é feita. A pandemia acelerou conexões hiperlocais e chamou atenção para a velocidade”, afirma. 

A terceira edição do evento já está confirmada e vai acontecer em outubro de 2021, na mesma semana do Dia Mundial da Alimentação. Data e local serão definidos em breve. “Para a próxima edição, vamos apostar no formato híbrido. Em 2019, o evento aconteceu em Porto Alegre e percebemos o quanto a troca presencial entre os participantes é importante. Neste 2020 desafiador, pela pandemia, nos adaptamos para o formato digital, o que possibilitou ampla interação a possibilidade de tornar o evento global. Para 2021, vamos trabalhar para garantir experiências ainda melhores, reunindo pessoas de todo o mundo com conexões ainda mais ricas e que gerem mais impactos positivos na cadeira como um todo de forma presencial”, adianta. 

O evento contou com patrocínio de Tramontina, STIHL e BRFHub, SpLaw como parceira jurídica e patrocinadora da trilha Network 4.0 e Uniagro patrocinadora da trilha Foodcare. O evento contou com apoio especial de Casa Flora. Anprotec, AgtechGarage, Numerik, Sebrae e Unisinos foram parceiros desta edição.

Confira como foi o segundo dia do Open Food Innovation Summit 2020

Na trilha Food Care, Raquel Abegg Leyva, CEO da TAO Kombucha, dividiu os desafios de uma empresa familiar que se tornou a 1ª fábrica de kombucha da América Latina. Hoje, são 300 marcas no país. Para Raquel, a pandemia fortificou a marca, “como nosso foco são pequenos empórios que tiveram que fechar durante a pandemia, sentimos uma diminuição nos dois primeiros meses, mas, em seguida, percebemos um aumento na compra direta de clientes finais”, indica. Segundo ela, o grande motivo é a busca das pessoas por hábitos e consumos mais saudáveis.

Os hábitos e consumos saudáveis também foram foco da palestra do médico neurologista, Pedro Schestatsky. Em sua palestra, Schestatsky reforçou os impactos de um microbioma saudável para o bem-estar neurológico. O uso de fermentados foi incentivado pelo palestrante que, inclusive, compartilhou uma receita caseira com o público. Outro ponto destacado pelo especialista foi o resultado de transplantes de fezes em estudos sobre inflamações no intestino. A dieta rica em plantas também foi defendida pelo neurologista. “Revestir o órgão com estes nutrientes, além do consumo diário de água, reduz a inflamação gerada no intestino, auxilia na produção de serotonina, um neurotransmissor importante para regular as funções cognitivas”.

As grandes tendências e inovações em negócios alimentícios foram destaque na trilha Rebuild. Uma das primeiras palestras da manhã foi da consultora na WGSN Mindset LATAM, Julia Curan, pela trilha de Rebuild. Ela destacou cinco grandes tendências para o setor de alimentos e bebidas: resolução de design (focar em sistemas e não coisas); aceleração tecnológica (tornar a experiência pessoal); alavancando o local (força das comunidades); vendendo sobrevivência (sirva a mente e o corpo); e, prazer com propósito (redefinir o que é tratar a si próprio). “A pandemia acelerou diversas previsões, a medida que bem-estar, conforto e proteção se tornaram essenciais para o consumidor. A inovação está ligada a sistemas holísticos, que olham para seus impactos e como chegam nas pessoas”, destacou Julia.

No novo cenário, estar no digital será como abrir as portas de um restaurante. A fundadora Vanessa Huguinin, da Food-se – empresa de branding gastronômico, apontou sete drives que surgiram na pandemia, também pela trilha Rebuild. Entre eles: 1) a revolução digital no segmento, com a inclusão de QR codes e apps para relação com fornecedores, clientes e parceiros; 2) o propósito como o novo gourmet; 3) marcas se engajando cada vez mais com públicos a partir de suas histórias; 4) a massificação do delivery atingindo até mesmo restaurantes que nunca imaginaram sua comida viajando em um baú de moto e a crescente demanda por entregas próprias e de qualidade para estender o diálogo para dentro da casa do cliente; 5) o protagonismo dos espaços e experiências ao ar livre, como takeaway e drive-thru; 6) cozinhas e espaços colaborativos; e, por fim, 7) a segurança alimentar em primeiro lugar na comunicação de marcas, muito antes do sabor. 

A tecnologia para aproximar o local do consumidor foi destaque na palestra de Rodrigo Kronbauer, da Local Farmers. Ele contou que o negócio começou a partir de uma visita sua ao mercado, quando percebeu o alto preço da alface e sua origem – muito distante dali. Para além dos impactos ambientais com logística, esse processo não fazia sentido. Em operação desde janeiro deste ano, a startup do RS oferece serviço de entrega de produtos orgânicos, unindo produtores locais a consumidores finais nas regiões de Porto Alegre e Canoas. Ainda, a Local Farmers agora lança um braço de apoio ao produtor rural, para auxiliar com conhecimento e técnicas para otimização da produção de orgânicos. 

Como tornar a agricultura, uma prática majoritariamente degenerativa, para regenerativa? Essa foi a reflexão feita na palestra do diretor de inovação da Howgood company, Ethan Soloviev. A empresa que é o maior data base de ingredientes e produtos sustentáveis, desenvolveu uma ferramenta para empresas alimentícias e farmacêuticas deixarem seus produtos cada vez mais sustentáveis valorizando a biodiversidade do ecossistema. “São mais de 127 métricas que calculam os impactos dos produtos no planeta e ajudam a direcionar mudanças que causem impacto significativo, como um acréscimo ou retirada de um ingrediente, até a decisão de plantar em um determinado local que tenha mais adaptabilidade”, explica. 

Pela trilha Zero %, o diretor de inovação da BRF, Sergio Pinto, compartilhou a experiência da empresa com a plataforma Ecco BRF, lançada em março, no início da pandemia do covid-19. “Entendemos que era a oportunidade não só de colocar em prática ações, mas trabalhar a causa, que é o comportamento de cada um”, destacou Pinto. O portal auxilia não só o consumidor final como também clientes varejistas sobre compras, consumo, armazenamento e redução de desperdício. “Para nós, colaborar é aprender. E aprendemos muito com os usuários sobre o que é necessário fazer para reduzir impactos ambientais na produção e oferta de alimentos. Não é só educar, é preciso exemplificar e assumir compromissos mais efetivos”, finalizou o palestrante.

Pensando em oferecer uma solução biodegradável ao excesso de embalagens descartáveis no meio ambiente, a Já fui mandioca desenvolveu bioembalagens 100% ecológicas e feitas de fécula de mandioca. Segundo o CEO da empresa, Stelvio Mazza, palestrante pela trilha Zero % os produtos viram adubo em até 90 dias. “Costumo dizer que nos inspiramos na melhor embalagem que existe no mundo que é a casca das frutas, pois permanece perfeita enquanto a fruta necessita dessa proteção. Depois, volta para a natureza. Por isso, nossas embalagens vêm da terra, através da mandioca, e voltam para a terra em forma de adubo”, explica.

Você já pensou aonde vai a sobra de comida da sua casa? E do seu restaurante favorito? O assunto norteou a palestra da CEO da ARCO – Ações para Reciclagem e Compostagem, Natália Pietzsch.  “Precisamos falar em compostagem para melhorar efetivamente a taxa de reciclagem e o aproveitamento de resíduos nas cidades. Deve ser internalizado pela população que não se trata de lixo, algo que não possui valor, mas de matéria-prima para a agricultura. A compostagem fecha o ciclo alimentar, devolvendo todos os nutrientes que estão nas cascas e polpa dos alimentos para o solo e, assim, permitindo produzir novos alimentos sem o uso de fertilizantes químicos”, explica Natália.

Winnee Louise Santos Lima, coordenadora de Impacto Social na Gastromotiva fez uma fala emocionada sobre sua experiência atuando com voluntários e parceiros no combate à insegurança alimentar no Rio de Janeiro. O projeto atende cerca de 90 pessoas todas as noites, servindo 270 pratos (entrada, prato principal e sobremesa). “Até casca de banana vira uma história. Alimentos que muitas das vezes, de forma privilegiada, temos acesso em nossas mesas, e que é uma incerteza para essas pessoas”, ressalta. Segundo Winnee, o Gastromotiva é um trabalho que perpassa em um único eixo em todas as suas ações: educação. Para acontecer, o projeto conta com parceiros que, para Winnee, são essenciais. “São pessoas que deliberadamente fizeram uma opção de agirem de forma emergencial perante à questão da fome, que vão sair de lá pensando sobre privilégios, fome, invisibilidade seletiva e tudo que envolve este problema”, indica.

Diretamente de Berlim, Andrea Rosen, Head of Smart City da Infarm, falou pela trilha Hiperlocal. Ela acredita, ainda, que a produção local ganhou impulso com a pandemia do coronavírus. “Todos viram um novo mundo em que, rapidamente, é possível ser potencialmente cortado (alguns realmente foram) do abastecimento alimentar. Com o fechamento de fronteiras, as prateleiras ficaram vazias. Isso nos levou a pensar, ainda mais, de onde vem o nosso alimento e apoiar iniciativas locais, quer se trate de produção alimentar local ou de mitigação através da mentalidade de “pensar local” em todas as indústrias. O Infarm foi um serviço essencial e conseguimos mostrar que somos um produto à prova de pandemia”, afirma a Head. 

Guilherme Moreira, também falou pela trilha. Moreira é líder da Marvella Farms, que deve instalar um oásis com 30 fazendas protegidas em Djibouti, no deserto africano, contou sobre os desafios do projeto que tem como principal foco a redução da insegurança alimentar. Segundo ele, solos férteis estão virando pó, por isso, o projeto utiliza a mais recente tecnologia hidropônica para fornecer produtos frescos e cultivados localmente durante todo o ano, resolvendo o problema de acesso a alimentos nutritivos e baratos. Para Moreira, a alimentação e a agricultura é o que temos em comum, independente de nacionalidades, mas é, também, uma das maiores ameaças ao planeta. “Ainda assim, a alimentação e a agricultura são a resposta para a maioria dos nossos problemas: saúde mental, pobreza e conflitos, por exemplo”, avalia. Durante a palestra, Moreira fez um apelo: “Precisamos cuidar da Amazônia, sem ela, o Brasil vai virar um deserto”.

Juliano Hauer, CEO do James Delivery, falou sobre as experiência da startup na trilha Delivery. A empresa, recentemente adquirida pelo grupo Pão de Açúcar, teve aumento em 962% no número de pedidos em comparação com o mesmo período do ano passado. Quando é feito um recorte na operação voltada para as compras de supermercados, o crescimento é ainda maior, de 1800% na quantidade de pedidos. Dentre os consumidores, a entrada de usuários da terceira idade é um destaque. “Também identificamos um acréscimo de 200% no cadastro de novos estabelecimentos parceiros, como restaurantes e farmácias, por exemplo, que foram dois dos segmentos que mais avançaram neste cenário”, indica Hauer. Para o CEO, os hábitos de compra online foram acelerados durante o período de pandemia e as empresas tiveram que acompanhar esse ritmo.

A retomada verde, que tem ganhado força nos últimos meses, foi um dos temas abordados na trilha Network 4.0. O sócio do escritório de advocacia focado em saúde, tecnologia e alimentos SP Law, Pedro Carneiro, destacou a importância da governança corporativa como um instrumento para fomentar o setor de alimentos. “Com um viés socioambiental, a regulação pode facilitar o acesso ao mercado, além de solucionar passivos. Quanto menor o risco regulatório, maior será o retorno do investidor”, comentou. O movimento que iniciou na Europa, no entanto, não dá sinais de uma regulação específica nos próximos dois anos, desta forma, Carneiro incentivou o debate e avaliação dos impactos regulatórios diante da necessidade e realidade do Brasil. Porém, alertou aos empreendedores que não aguardem por uma proposição legal. “É preciso atuar na parte preventiva antes do problema ocorrer, pois a regulamentação está sempre atrás quando o assunto é inovação. O empreendedor tem que ter uma linha para saber como agir. O investidor vai olhar para estas questões”, finalizou.

Uma das investidoras em co-desenvolvimento e co-investimento no ecossistema do setor é a Cargill, que também participou da trilha nesta quinta-feira. O executivo responsável pela inovação na América Latina, João Alexandre Carvalho, compartilhou a experiência e as oportunidades que a empresa tem oferecido. “A gente acredita que o consumidor deve escolher e guiar a indústria para o tipo de alimento que quer consumir. Cabe às empresas, encontrarem uma forma de atender as necessidades que vêm surgindo”, comentou Carvalho. Atualmente, os projetos envolvem crescimento na Ásia; ingredientes de valor agregado; proteínas; saúde e nutrição; bioindustriais e soluções digitais. Além das iniciativas externas, a empresa também vem incentivando a inovação interna, criando cultura para estar preparada para encarar os desafios, alinhado com as lideranças. 

Marta Miraldes, Head of Programs da From Start to Table, programa de aceleração da incubadora StartupLisboa, compartilhou sobre o ação que reúne startups e premia em £20.000,00 o melhor projeto para a área de alimentação, que possa solucionar problemas reais em momentos de pós-pandemia. Dentre vários cases apresentados, um dos mais citados foi da marca gaúcha Cozinhe.me, que foi selecionada para participar do programa por ter apresentando experiência de restaurantes através de kits personalizados via delivery. 

Como alimentar 9 bilhões de pessoas até 2050? Filha de produtores, Mariana Vasconcelos é cofundadora da AgroSmart e em sua palestra na trilha Network 4.0 apontou sobre a importância do diálogo do food e do agro para garantir que teremos alimento para todos. A empresa é hoje a principal plataforma de agricultura digital da América Latina e utiliza dados em tempo real que são transformados em informações para garantir assertividade na tomada de decisão para manejo no campo. Entre as fontes estão drones, genética de sementes, imagens, sensores no campo, maquinários e inputs do próprio agricultor. Hoje, apenas 14% das lavouras no Brasil tem conectividade. Mariana é otimista para a transformação total da cadeia do alimento com o apoio da indústria para projetos em grande escala. Comenta que o impacto só acontece com o engajamento completo, desde insumos e distribuição, passando por produtores, cadeia de valor, crédito e seguro rural.

Realizado via streaming em plataforma digital e totalmente interativa, o Open Food Innovation Summit seguirá disponível por seis meses para que os inscritos possam acessar o conteúdo quando e como quiserem. O evento contou com patrocínio de Tramontina, STIHL e BRFHub, SpLaw como parceira jurídica e patrocinadora da trilha Network 4.0 e Uniagro patrocinadora da trilha Foodcare. Apoio da Anprotec, AgtechGarage, Numerik, Sebrae e Unisinos. 

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