Segundo o Sebrae, percentual de empreendedoras no país já é de 46%, evidenciando o protagonismo feminino. Dados e Insights que trazem os contextos sócio-econômicos dessas mulheres são a base do Universo M, plataforma de conteúdo da marca
A Marisa, maior rede de moda feminina e lingerie do Brasil, lança neste mês de novembro o estudo “O Corre da Mulher Brasileira”, desenvolvido pela marca, criado pelo hub de cultura e inovação Lemme em parceria com a agência Quintal e as consultorias de diversidade Alfazema e de tendências TATO. O levantamento mostra como as mulheres estão vivendo e expressando o ser mulher: quais são suas faltas, desabafos, vitórias, como estão olhando para a vida nesse momento, do que sentem falta e para onde o olhar está expandindo. Para esse diagnóstico, foram coletados dados relativos a consumo e atitudes do painel Target Group Index Snapshot de 2021 da Kantar, com uma amostra que conta com mais de 3.500 respondentes do gênero feminino, com idade de 25 anos ou mais. Esses achados foram combinados com outras 25 fontes públicas de dados secundários, coletados e analisados por centros de pesquisa renomados como Google, Gênero&Número, TIC Domicílios e IBGE. Todas essas informações formam a base do Universo M, plataforma de conteúdo criada pela Marisa, em setembro deste ano, com o objetivo de intensificar o processo de transformação digital da Companhia e colocar as mulheres no centro de tudo.
“Na elaboração deste estudo, combinamos metodologias variadas com o objetivo de entender o contexto em que se encontram essas mulheres com as quais queremos dialogar na plataforma Universo M. Assim, trazemos aqui recortes sociodemográficos e comportamentais que buscam entender quais os pontos de contato e de distanciamento que perpassam a vida destas brasileiras. As informações vão nos ajudar a falar com elas – de mulher para mulher – com ainda mais propriedade”, explica Paula Martins de Oliveira, head de marketing da Marisa
Para Babi Bono, CCO e fundadora do hub criativo Lemme, o papel das marcas que querem seguir uma narrativa de conteúdo proprietária vai muito além de conhecer apenas o seu público: “As marcas ocupam espaços muito importantes hoje, é fundamental se aprofundar nos contextos sociais, econômicos e culturais para trocas responsáveis e empáticas ao momento das pessoas. Mais do que lançar uma plataforma de conteúdo, a Marisa pode ser uma parceira nessa rede de apoio às mulheres e isso precisa vir antes de qualquer narrativa, mas junto a um pacote de ações, a partir do entendimento do momento em que essas mulheres estão. É quase que reforçar o “de mulher pra mulher”. Com todo esse conhecimento em mãos, desenhar o conteúdo passa por falar a mesma linguagem e estar ao lado nas questões que sejam importantes para elas”.
Os cruzamentos de dados e informações deram origem a polos entre os quais as brasileiras transitam e ajudou a marca a se aprofundar no diagnóstico de quem são as mulheres Marisa, reunidas em dois perfis principais:
– Guerreira, Eu? – São as mulheres que se percebem como esforçadas e batalhadoras. Abraçam muitas responsabilidades e desempenham múltiplos papéis para que a vida siga nos trilhos. A realidade desta mulher pode envolver jornadas duplas e triplas, mas seu comprometimento consigo mesma e com os seus é o que mais importa para ela. A família e o lar têm muito valor na vida dessas mulheres. Elas compreendem o papel que desempenham na sua comunidade e o fazem com dedicação, buscando serem aceitas como são. O esforço dessa mulher não é só pela família ou pelo trabalho: é por ela mesma também. Elas são o pilar de sustentação de muitas frentes e, por isso, têm um padrão de exigência alto consigo mesmas, sendo agentes da melhora e evolução do universo de que fazem parte.
– Não sou obrigada – Elas se veem como informadas, independentes, batalhadoras e empreendedoras. Essas mulheres não se deixam definir por estereótipos, questionam o status quo, conquistam novos espaços, fazem e acontecem construindo seu futuro com as próprias mãos. Buscam romper com as expectativas tradicionais e limites que foram impostos a ela, e por isso estão sempre batendo de frente e sendo resistência. De caráter inovador, estão a par das questões contemporâneas que transformam a sociedade e não abrem mão do que as move adiante.
Tanto a Guerreira, Eu? quanto a Não Sou Obrigada carregam consigo o fato de que são mulheres de atitude, empreendedoras da vida real e agentes de mudança no seu entorno. Algumas são mais conservadoras, outras mais progressistas, mas todas sabem o que querem, que lugar querem ocupar no mundo e como seguir em movimento para chegar lá. O corre faz parte da vida de ambas e estão exaustas, por isso a rede de apoio é fundamental. Submissa é um termo que não se encaixa em suas vivências.
Confira abaixo os principais recortes do estudo “O Corre da Mulher Brasileira”:
Protagonismo econômico:
Segundo dados do Sebrae, em 2018 as mulheres já eram 34% dos empreendedores no país; em 2020, esse percentual saltou para 46% – e não para de crescer. Apesar disso, os negócios chefiados por mulheres foram os mais afetados pelo início da pandemia. Por outro lado, foram os que melhor se recuperaram. Isso porque as empreendedoras foram as mais preocupadas em fazer mudanças estratégicas nos seus negócios, com maior investimento em digitalização em todas as frentes: para vender online, atender online, recrutar e se comunicar.
As mulheres são hoje o principal motor da inovação nos negócios. Na mesma medida em que perdem espaço no mercado formal de trabalho, se reinventam e forçam sua inserção na economia através de negócios próprios, de novos modelos de trabalho e da melhoria estrutural de seus projetos empreendedores. Nesse movimento, elas movem também a roda da economia, mesmo com menos incentivo financeiro, estrutural e social do que os homens.
O Corre das Mulheres Negras
É impossível falar de mulheres sem falar de raça, não somente porque as mulheres negras representam 28% da população brasileira, compondo o maior grupo étnico e também a maior força de trabalho do país, mas porque sua presença na sociedade ainda é marcada por dados que refletem desafios estruturais.
Há um abismo silencioso, porém de grande impacto cotidiano: a remuneração de duas mulheres negras juntas, correspondem ao valor médio de uma mulher não negra. Se não bastasse essa diferença, suas atuações são quase exclusivas em papéis na base das empresas. Desta forma, muitas dessas mulheres acabam por atuar de modo autônomo, frequentemente sem o mesmo reconhecimento e incentivo de empreendedorismo que seus pares não negros – apesar de a população negra movimentar R$ 1,3 trilhões por ano. As maiores queixas das empreendedoras negras são a falta de acesso às instituições bancárias e o viés excludente nas mesas de investidores, mesmo estas representando 49% das micro e pequenas empreendedoras do país (Fonte: Sebrae, 2019).
Educação
Estamos vivendo um contexto de maior escolarização das mulheres em nosso país, sendo que desde os anos 1990 elas têm melhores indicadores de conclusão escolar do que os homens. São elas que compõem a maioria entre os que completaram o ensino médio e o ensino superior. Entre os 51,2% dos adultos que não concluíram essa etapa, os motivos mais citados foram a necessidade de trabalhar (39,1%) e a falta de interesse (29,2%). Contudo, entre as mulheres, destacam-se ainda a gravidez (23,8%) e os afazeres domésticos (11,5%), razões que destacam os efeitos que o recorte de gênero tem sobre a educação.
Vistas pela sociedade como cuidadoras natas, as mulheres ainda assumem, de modo geral, as tarefas de cuidado da casa e das pessoas. São elas as responsáveis pelo cuidado de sua rede familiar e comunitária, desde o nascimento do bebê e o crescimento e desenvolvimento das crianças ao amparo aos idosos e pessoas dependentes. Esta situação não se resume às mulheres que trabalham exclusivamente nas tarefas do cuidado. Ao contrário, se estende às mulheres que têm outras ocupações remuneradas. Muitas vezes exercendo esse cuidado em uma jornada dupla de trabalho, mulheres gastam em média mais de 61 horas por semana em atividades de cuidado não remuneradas, o que implica em menos tempo disponível para dedicarem ao seu desenvolvimento pessoal ou participarem de questões públicas.
O corre familiar e a maternidade
Uma pesquisa realizada pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) identificou que metade das mães brasileiras foram demitidas até dois anos após a licença-maternidade, o que evidencia os desafios que se impõem à vida pessoal e profissional da mulher para conciliar as duas responsabilidades (profissional e familiar), bem como a falta de apoio e investimento das empresas nessa atividade não-remunerada que é a criação e cuidado das crianças – e da qual todos se beneficiarão um dia. Um levantamento realizado pela Catho escancarou ainda mais o problema, ao descobrir que 28% das mulheres deixaram o emprego após a chegada dos filhos, enquanto o mesmo se dá apenas com 5% dos homens. A falta de creches e de uma educação infantil de qualidade são fatores determinantes para esses índices.
Grande parte destas famílias chefiadas por mulheres encontram-se em situações de vulnerabilidade. Ao que se pese também as desigualdades salariais entre os gêneros, grande parte encontra-se concentrada nas faixas de renda per capita mais baixas: 53,4% vivem com até 1 salário mínimo por mês, quando entre os homens o percentual é de 46,46%. Quando consideramos ainda o recorte racial, vemos ainda que 63% das casas chefiadas por mulheres negras estão abaixo da linha da pobreza.