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Debates sobre novas tecnologias trazem preocupações sobre como ajudar a integrar pessoas e solucionar problemas sociais reais, além de revolucionar o mercado e garantir mais oportunidades

Por Yasodara Cordova, pesquisadora-chefe em privacidade na Unico

Estar em mais um SXSW, o maior evento de inovação do mundo, foi uma sensação ímpar de conexão com novas tendências para um futuro próximo, que vão moldar a experiência e a forma como as pessoas vão se relacionar. Foi uma oportunidade que difere um pouco das outras já vivenciadas porque, desta vez, a inteligência artificial (IA) é uma realidade muito mais disseminada e comentada – principalmente depois de todo o “hype” gerado com o lançamento da versão 3 do Chat GPT. 

Muitos especialistas abordaram o uso da realidade aumentada com as tecnologias generativas. Assim como qualquer tecnologia emergente, elas também passam por um ciclo de vida conhecido como o “Hype Cycle”, uma representação utilizada pelo Gartner para ilustrar e comparar a maturidade, adoção e aplicação de tecnologias ao longo de um ciclo de vida particular. Dentro dessa corrente de ideias e novos projetos, a cada edição, conteúdos são oferecidos e sempre estão ligados ao ciclo do “hype”, basicamente estabelecidos em cinco fases: Gatilho de Inovação, Pico de Expectativas Infladas, Abismo da Desilusão, Inclinação da Iluminação e o Platô de Produtividade.

A inteligência artificial generativa já caminha pelas duas primeiras fases e segue conquistando o mercado, despertando interesse cada vez maior de governos e empresários e vem se tornando um grande componente do orçamento de milhares de equipes de TI. A próprio Gartner posicionou a IA generativa como a principal expectativa dentre as emergentes e reforçou que ela terá um profundo impacto nos negócios e na sociedade. Está claro, no entanto, que um dos grandes desafios será alinhar essas expectativas com as realidades relacionadas aos benefícios práticos que a tecnologia pode, de fato, trazer aos negócios e à sociedade.

Por exemplo, muito se discutiu em Austin sobre como a IA vai mudar desde a prestação de serviços de saúde, passando pela eficiência operacional de fábricas, até seu uso como assistente pessoal. Ao mesmo tempo, existem expectativas surreais – ou até irreais – sobre IAs que conseguiriam suplantar a inteligência humana. Foram debates que fugiram da realidade, explorando o lado negativo, especialmente entre os ciclos dos mais criativos, propondo que a IA pudesse roubar todos os empregos e raspar todos os dados disponíveis na internet, mesmo sem ter permissão para que sejam acessados e utilizados. 

Outras muitas demonstrações de tecnologias interessantes foram feitas, como hologramas 3D de pessoas, produtos ou logotipos, táxis e carros individuais aéreos, e tecnologias de privacidade e segurança, que também nos mostram a relevância dessa discussão. Sem dúvidas, estamos vivenciando as fases de Gatilho de Inovação e Pico de Expectativas Infladas, apresentadas dentro do Ciclo Hype da Gartner. O SXSW 2024 seguiu destacando a importância cada vez maior da IA generativa no cenário tecnológico. A IA tem sido a grande estrela da revolução digital, embora outras tecnologias mostrem mais maturidade.

Diversas técnicas emergentes de Inteligência Artificial apresentam um vasto potencial para revolucionar as interações digitais tanto para empresas quanto para indivíduos. Além de aprimorar decisões comerciais, essas inovações promovem uma diferenciação competitiva duradoura. Entre elas estão a simulação de IA, IA causal, aprendizado de máquina federado, ciência de dados gráficos, IA neuro-simbólica e aprendizado por reforço. Essas tecnologias não só oferecem oportunidades para escalabilidade e implementação em diversos setores, mas também abrem portas para novas possibilidades ainda não exploradas. 

Enquanto adentramos esse universo impulsionado pela Inteligência Artificial, é fundamental reconhecer o valor da intuição e supervisão humanas. Nossa jornada demanda uma utilização sábia dessas ferramentas aliada à contínua inovação. Questões como vieses em IA, privacidade na coleta de dados, excesso de acumulação de informações, vigilância e os riscos associados à biometria têm sido centrais nas discussões desta conferência, impulsionando a evolução de projetos e debates. É crucial destacar os aspectos negativos das IAs e os esforços em curso para mitigar essas falhas, visando uma prestação de serviço mais eficiente e ética para todos os envolvidos.

Portanto, como sociedade, é nosso dever encontrar um equilíbrio adequado, assegurando que a IA possa complementar, e não complicar, nossos objetivos. Embora a atenção esteja atualmente voltada à IA, acredito que CEOs, CIOs, CTOs, DPOs, especialistas e pesquisadores do setor também devem explorar outras tecnologias emergentes com potencial transformador. Uma certeza é que o mundo passará por mudanças significativas nos próximos 10 anos e se tornará ainda mais diferente nos próximos 20 anos. Cabe a cada um de nós aproveitar esse potencial de maneira positiva e proativa.

Perfil da autora: Yasodara Cordova é uma tecnologista com mais de 15 anos de experiência em governo, academia, organizações internacionais e setor privado. Foi a primeira mulher a fundar um hackerspace no Brasil (Calango Hackerspace). Atualmente, é Pesquisadora-chefe de Privacidade na Unico, empresa especializada em identidade digital. Anteriormente, fez parte da equipe de inovação digital no Banco Mundial e foi membro do Conselho Consultivo de Segurança da TikTok no Brasil. 

Yasodara possui uma sólida formação acadêmica, com um mestrado como Fellow pela Ford Foundation no Ash Center para Governança Democrática e Inovação da Harvard University, nos Estados Unidos. Ela também foi fellow researcher do Berkman Klein Center para Internet e Sociedade e do Belfer Center, ambos de Harvard. 

Atualmente, ela também faz parte do grupo Digital Trust no Fórum Econômico Mundial; é membro da Câmara Técnica de Transformação do Estado de SP, no âmbito do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social da Presidência; e membro da Comissão Técnica de investimento do fundo global sem fins lucrativos Co-Develop, que apoia países a acelerar suas jornadas digitais. Como articulista, escreve para Fast Company, Startupi e Intercept Brasil.

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