Brasil é país em que consumidores mais superestimam impacto da inflação, constata dunnhumby na 8ª edição de seu estudo Consumer Pulse
Os gastos com alimentação vêm pressionando o bolso dos consumidores brasileiros. Com a percepção de que os preços dos alimentos aumentaram em 42,7% somente em 2022, o Brasil foi o país que mais sentiu a escalada dos preços. É o que revela estudo recém-divulgado pela dunnhumby, empresa global líder em ciência de dados do consumidor, na 8ª edição da pesquisa Consumer Pulse, que foi conduzida no mês de fevereiro deste ano e analisou 24 países. Seguido pela Colômbia e Chile, onde os consumidores têm uma percepção da inflação de 34% e 31,6%, respectivamente, 91% dos brasileiros viram os preços dos alimentos subirem, dos quais 70% consideram que o aumento foi muito maior em relação ao ano passado.
Na média geral, os consumidores dos países analisados superestimam a taxa de inflação real em 14 pontos percentuais, enquanto o Brasil lidera a lista com 35 pontos de distância dos dados oficiais – à época do estudo, a inflação estava em 8%; atualmente, as estimativas apontam para 10,5%. Esse sentimento é corroborado pelo fato de 86% da população sentir que a economia do País está fraca e 72% ver insegurança nas finanças pessoais. Se na 3a edição do Consumer Pulse, em maio de 2020, 39% dos brasileiros sentiam que o dinheiro não rendia tanto durante as compras, agora este número saltou para 66%.
Para André Rocha, Country Head da dunnhumby, mesmo com a distância entre o aumento real dos preços dos alimentos e o sentimento dos consumidores, a percepção se torna a própria realidade desses consumidores. “O varejo poderia revisitar suas listas de KVIs (itens de valor-chave) considerando as necessidades e hábitos de compras que podem ter se alterado durante a pandemia, sendo competitivo nos preços e melhorando a percepção de valor junto aos seus clientes”, explica.
A busca por custo-benefício segue como estratégia predominante nas compras
O Consumer Pulse categorizou os consumidores em três grupos: os que buscam custo-benefício, que representam 62% dos respondentes, os que não adotam nenhuma estratégia de compras (34%) e os que querem qualidade, totalizando 23%.
Dentre os que fazem parte do primeiro grupo, para driblar o aumento na hora das compras, as estratégias predominantes são pesquisar em canais online as melhores ofertas (52%) e comparar os preços (48%). Além disso, 42% afirmam que adquirem alguns produtos somente caso estejam em promoção, enquanto outros compram apenas o que está na lista de mercado (41%).
Já entre aqueles que priorizam a qualidade, 28% afirmam comprar itens naturais e orgânicos e 26% pagam mais caro para ter acesso aos melhores produtos. Ainda assim, considerando que 1/3 dos consumidores não adotam uma estratégia específica para economizar, os varejistas podem apoiá-los nesse processo.
“As pressões econômicas aumentaram e as pessoas sentem mais a diferença no bolso, porém os consumidores não mudaram drasticamente sua jornada de compras, pois desde o início da pandemia já vinham buscando uma solução de melhor custo-benefício. Ainda assim, uma parcela significativa dos brasileiros (23%) entende que a qualidade é essencial para sua compra e não estão dispostos a mudar os itens da sua cesta”, comenta André.
Sensação de volta à normalidade
O nível de preocupação dos brasileiros com a pandemia seguiu a tendência de queda do último estudo, passando de 39% para 29% – uma diferença de 20 pontos percentuais em comparação com a primeira edição, em março de 2020. Além disso, pela primeira vez o Brasil não lidera a lista dos Países mais preocupados com a Covid-19: o Chile ocupa o primeiro lugar, com 33%, e o Japão vem na sequência, com 31%.
No entanto, a sensação de retorno à normalidade não é um consenso quando se trata das visitas às lojas físicas: 46% dos consumidores não se sentem seguros durante as compras, uma queda de quatro pontos percentuais em relação a setembro do ano passado e março de 2020.
Visitas às lojas físicas aumentam; satisfação com os varejistas e experiência de compra se mantém estáveis
Os brasileiros estão comprando alimentos com mais frequência, seja nos supermercados, nos restaurantes ou no delivery: em média, mais de uma vez por dia, o maior nível já registrado desde a primeira edição do estudo. A avaliação da experiência na loja e do trabalho dos varejistas se mantiveram estáveis: 30% dos consumidores estão satisfeitos com as experiências de compra e 38% avaliam que os varejistas estejam fazendo um bom trabalho em criar um ambiente de compra seguro do ponto de vista sanitário (em setembro do ano passado esses números eram de 32% e 41%, respectivamente).
Com relação às drogarias, em fevereiro de 2021, 39% dos brasileiros consideravam que os varejistas estavam fazendo um bom trabalho nesse sentido; em setembro este número passou para 32%, e se manteve estável nesta edição em 31%.
Tendência de compras online segue em alta
Após o início da pandemia do Covid-19, as compras online tiveram uma tendência de alta, e se estabilizaram em um patamar elevado (67%). O Brasil se mantém entre os países que mais realizam compras no e-commerce, mas caiu uma posição para o sexto lugar, atrás da China (95%), Tailândia (86%), Malásia (76%), Colômbia (70%) e Chile (69%), respectivamente.
A satisfação com a experiência de compra online é alta (33%) e comparável à da loja, sugerindo ainda mais estabilidade no futuro. O delivery é o canal mais popular (tanto da loja quanto de terceiros).
Mais da metade dos brasileiros está fazendo algum tipo de dieta
Outros temas que serão aprofundados ao longo de 2022 serão saúde e sustentabilidade. A saúde é uma tendência importante, pois mais de 90% das pessoas reconhecem alguns dos benefícios de uma alimentação saudável: 49% afirmam que uma boa dieta traz uma sensação de bem-estar e 45% tentam escolher produtos que fazem bem para a saúde quando vão às compras.
A pesquisa revela, ainda, que mais da metade dos brasileiros (51%) estão em algum tipo de dieta; destes, 16% buscam reduzir o consumo de carnes e derivados, e apenas 2% seguem uma dieta vegetariana/vegana. Considerando o perfil do público brasileiro com foco na saúde, em geral são mulheres, com renda mensal média e possuem 35 anos ou mais.
No ranking dos países mais preocupados com uma alimentação saudável, o Brasil está em 4º lugar empatado com Portugal (56%), atrás apenas de Chile (64%), Colômbia (61%) e México (57%).
Apenas um terço da população pensa nos impactos da sustentabilidade
Embora as pessoas reconheçam pelo menos alguns benefícios da sustentabilidade, apenas 31% dos brasileiros demonstram preocupação com o tema. No ranking dos países mais preocupados, o Brasil está em 9º lugar, atrás de países como China (57%) e Colômbia (41%).
Praticamente todos aqueles que estão focados em sustentabilidade também estão focados na saúde. Isso sugere que os benefícios para a saúde podem ser uma estratégia de varejo mais adequada neste momento. No entanto, 41% dos consumidores brasileiros não focam nem em saúde, nem em sustentabilidade.
Tendências e desafios para os varejistas
Com um cenário global desafiador que envolve a Guerra na Ucrânia, o aumento do petróleo e os impactos nas safras de commodities agrícolas, somado às dificuldades econômicas do Brasil, que além da pressão inflacionária enfrenta as incertezas de um ano eleitoral, cabe aos varejistas o papel de conhecer melhor seus clientes para oferecer entregas mais adequadas às suas necessidades.
“Perante essa percepção aguda do consumidor brasileiro em relação a inflação, o varejista precisa revisitar suas estratégias de preço e promoção, aliadas a um planejamento comercial que suporte essas estratégias, fortalecendo sua capacidade de atender as necessidades do consumidor com uma melhor percepção de preço. Aqueles que conseguirem aliar um conhecimento efetivo do hábito do consumidor às suas estratégias comerciais se diferenciará da sua concorrência”, explica André.
Sobre o Consumer Pulse
A dunnhumby, que analisa dados de mais de 1 bilhão de shoppers ao redor do mundo, procurou entender os hábitos dos consumidores durante a COVID-19 no mundo e seus impactos no varejo após mais de dois anos de pandemia. A pesquisa, que já está na oitava onda no Brasil e compreende o período de fevereiro de 2022, envolveu 24 países e ouviu homens e mulheres que são os principais tomadores de decisões de compra em seus domicílios.
* Período da pesquisa
Primeira onda: março de 2020 | Segunda onda: abril de 2020 |Terceira onda: maio de 2020 | Quarta onda: setembro de 2020 | Quinta onda: novembro de 2020 | Sexta onda: fevereiro de 2021 | Sétima onda: setembro de 2021 | Oitava onda: fevereiro de 2022.