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Encomendado pela Eisenbahn ao DataFolha, o documento aponta a relação das pessoas com o tempo e seus hábitos a partir de sua rotina: apenas 9% da população brasileira adulta sente que tem um ritmo de vida calmo, enquanto uma parcela bem maior (43%) declara viver em ritmo acelerado ou muito acelerado

No primeiro trimestre deste ano, o Instituto DataFolha e a Eisenbahn realizaram, em parceria, uma pesquisa quantitativa para entender mais sobre a relação do brasileiro com o tempo e sobre o ritmo de vida das pessoas. A falta de tempo livre e o excesso de informação absorvida pela população foram temas centrais do estudo que pode ser acessado na plataforma do projeto. O conteúdo apresentado tem o objetivo de saber como a população lida com a aceleração do ritmo de vida e reflete com possibilidades de reverter essa situação, para aproveitar melhor cada momento, sem atenções fragmentadas. Ao todo 1.500 pessoas acima de 18 anos, de todas as regiões do Brasil e com acesso à internet, foram entrevistadas.

A problemática central desta análise é confirmada por um terço das respondentes, que declaram viver no automático. O ponto é que esta questão não está relacionada a momentos de lazer – já que 19% dos indivíduos manifestaram não terem hábitos para relaxar sem se preocupar com o tempo –, mas sim com uma mentalidade de aumentar a produtividade e inserir mais tarefas no cotidiano. Os dados geram o insight de que o cenário ideal para sair do modo automático é prestar a atenção nos detalhes e aproveitar o presente em todos os momentos do dia a dia.

Um aspecto interessante no mundo contemporâneo é também a tendência de acelerar processos naturais da vida real e que antes só eram possíveis em ambientes digitais. Com isso, Eisenbahn e Datafolha alertam sobre a importância de retornar ao ritmo 1x, enquanto a maioria está fundamentalmente em 2x, fazendo uma analogia ao consumo de conteúdos digitais. Esta referência principal é embasada pelo dado de que mais de um quarto (26%) dos brasileiros adultos assiste vídeos ou ouve áudios em alta velocidade para supostamente conseguir tempo para resolver outras tarefas. Mas, para além das ferramentas tecnológicas que podem ser aceleradas, a investigação mostra que o público está externalizando isso e realizando funções sem prestar 100% de atenção no que desempenha. 

Ainda sobre este tema, comprova-se que a tecnologia é um recurso importantíssimo na vida do ser humano moderno: na comunicação, na busca por conhecimento, nos relacionamentos e no consumo. A partir disso, a pesquisa mostra, também, recortes geracionais e de gênero, de como é prejudicial estar conectado o tempo todo, e como isso afeta o emocional da população e as suas relações. Pode-se duvidar, a partir daí, se as pessoas vivem inteiramente o contato com família e amigos, os almoços de domingo, as leituras, os momentos de lazer ou somente vivem no automático – como respondeu um terço dos interrogados –, dizendo ainda que realizam tarefas sem prestar a devida atenção ao que estão fazendo. Dentro deste tópico, somente 23% dos indivíduos disseram conseguir se dedicar completamente às atividades preferidas sem precisar dividir atenções.

De fato, a humanidade consome muito mais conteúdos de áudio, vídeos e até filmes no modo mais rápido, o que resulta em um alerta: a sociedade moderna, como um todo, está sem tempo livre para lazer ou coexiste apenas para cumprir deveres e obrigações, deixando de lado importantes necessidades prazerosas? Abrir mão de aproveitar o processo das atividades, de enxergar beleza nos detalhes mais rotineiros, para se preocupar apenas com o próximo to do da lista de compromissos é bastante sintomático. Esse tema é confirmado amplamente por 50% dos entrevistados que sentem ansiedade quando pensam nas tarefas habituais, por exemplo.

Por meio do levantamento, a saúde, o autocuidado e hobbies revelam-se temas para os quais a sociedade parece não dedicar muita atenção. No grupo de 25 a 34 anos, 44% destes afirmam faltar-lhes tempo para cuidar da saúde e ainda mais entrevistados de outras faixas etárias disseram não ter o tempo desejado para sair com amigos e aproveitar a vida, por exemplo. Esses recortes mostram ser urgente repensar maneiras de como sair do looping da vida em velocidade rápida para considerar mais hábitos de lazer ou incluir a saúde em primeiro lugar.

Dados refletem ainda que 48% da população dedica menos tempo do que gostariam para ler livros, no mesmo patamar dos que condicionam menos tempo do que gostariam para praticar um hobby (47%). A grande maioria, quase a totalidade – 90% – diz concordar totalmente ou em parte que os dias hoje passam mais rápido do que em seu período de infância.

As informações que compõem a dissertação são muitas e as hipóteses vão longe, mas, no estudo, delineia-se um cenário preocupante em que a comunidade está presa em círculos viciosos de distração, ansiedade e estresse, tentando concluir inúmeras tarefas e obrigações, e que acaba não conseguindo concentrar-se em nada, ou quase nada. E por isso se faz urgente estimular um estilo de vida desacelerado em 1x, com atenção aos detalhes, respeitando os processos. Esta é uma das metas almejadas do Instituto DataFolha e da Eisenbahn, depois do entendimento intelectual de todos esses dados sintomáticos, o cenário delineado é que a maioria da civilização está vivendo ‘com a cabeça em outros lugares’, sem compreender grandes parcelas do momento presente.

E de modo geral, uma das reflexões que este conhecimento oferece é: o que dá forma ao futuro é a qualidade de nossa percepção no presente. Sendo assim, de certo modo, ter esse entendimento pode ser um dos mais importantes ensinamentos para se ter uma vida plena, absolutamente livre de distrações, e passível de transformar momentos cotidianos em boas e inesquecíveis memórias no futuro. 

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